Mal que atinge 5 milhões de brasileiros, a chamada cefaleia crônica diária, nome científico da dor de cabeça, vem sendo objeto de estudos há 30 anos. Enquanto médicos e cientistas ativam os neurônios para descobrir causas e soluções para o problema, milhares de pessoas apelam para terapias contra os mais de 200 tipos de dores no crânio já catalogados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe), estima-se que 1,2 milhão de cariocas, o equivalente a 15 Maracanãs lotados, sofram de enxaqueca ou cefaléia migrânea, uma doença dos nervos e vasos sanguíneos do cérebro, que torna-se crônica por causa dos repetidos episódios de dor.
Mas quais as terapias que apresentam resultados mais eficazes? Segundo especialistas, os tratamentos medicamentosos e não medicamentosos têm tido a mesma faixa de resposta terapêutica. Cerca de 50% propiciam a redução das dores, mas em apenas 50% dos pacientes acometidos de fortes ataques.
O presidente da SBCe, Mauro Jurno, frisa que o Brasil, onde 15% dos habitantes sofrem com enxaqueca em sua fase mais produtiva, entre 30 e 50 anos, é também o país com o maior número de casos de cefaleia crônica diária, e que o ‘volume assombroso de sofredores’ desencadeia outras preocupações médicas. Em alguns casos, as vítimas de crises diárias buscam, desesperadamente, curas milagrosas, apelando para simpatias, mitos, hipnoses, acumputura e outras iniciativas, muitas vezes sugeridas pelo público leigo. E acabam aumentando o sofrimento. Mais grave ainda: boa parte dos pacientes se enche de analgésicos, atacando severamente o fígado.
R$ 2 bilhões por mês Dados da OMS indicam que, enquanto os brasileiros gastam mais e R$ 2 bilhões em analgésicos mensalmente, apenas 1% da população alemã apela para essa opção, que não passa de 4% na Suiça.
Entre as novidades, o uso da Toxina Botulínica é o que há de mais recente. A substância é uma das mais potentes toxinas bacterianas conhecidas, produto da fermentação da Clostridium Botulinum, que causa o quadro clínico de botulismo. Na forma inativada, possui ação terapêutica no tratamento de inúmeras síndromes dolorosas, incluindo enxaqueca e cefaleia comum. “Essa nova opção, porém, só vem sendo usada, com cuidado, em alguns casos selecionados”, pondera Jurno, lembrando que novidades sobre o assunto são sempre atualizadas no site
www.sbce.med.br. A estudante de enfermagem Angela Almeida Alves, de 35 anos, conta que tem dor intensa e latejante do lado direito da cabeça, sem causa aparente, quase que diariamente, desde os dez anos. “Pelo menos duas vezes por mês, vou parar no hospital para tomar injeção de anagésico na veia, a única coisa que alivia a dor, que não me deixa abrir sequer os olhos”, relata Angela.
A corretora de imóveis Hildimila Bruno, 45, diz que nove dias do mês são ‘jogados fora’ por conta das intensas crises. “As dores mais fortes duram três dias seguidos. Tenho isso três vezes ao mês. Nesse período, meu humor muda e fico a maior parte do tempo isolada, em quarto escuro”, descreve a corretora, que evita bebida alcoólica, queijo, café e chocolate.
Mais de 35% dos brasileiros têm algum tipo de dor de cabeça O último estudo epidemiológico nacional da enxaqueca da Sociedade Brasileira de Cefaleia revelou que mais de 35% dos brasileiros sofrem com dores de cabeça. Entre 3,8 mil entrevistados, 15,2% têm enxaqueca clássica, 13% possuem cefaleia tensional, forma mais comum associada à tensão muscular, e 6,9% sofrem com cefaleia crônica.
Avanços de tratamentos à base de medicamentos, como os neuromoduladores (anticonvulsivantes), antidepressivos e betabloqueadores, serão divulgados neste ano no 31º Congresso Brasileiro de Cefaleia, em Tiradentes (MG), promovido pela SBCe, que tem 400 membros no país.
Na rede pública, o socorro imediato para quem padece de fortes dores de cabeça ainda é falho, ao contrário da rede particular. No Rio, o Centro Multidiciplinar da Dor, criado há 18 anos para tratar a origens de dores, que não atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS), já tem como maioria dos pacientes pessoas que sofrem diariamente com dor de cabeça.
“Dos mais de 1,8 mil atendimentos que fazemos por mês por uma equipe de 18 profissionais, que se reúne periodicamente em busca de soluções para dores sem uso de máquinas, 60% já são relativos a dores de cabeça”, observa a dona da clínica, Gabriela do Amaral.
Já a Academia Americana de Neurologia (AAN), formada por 25 mil especialistas, defende que mais de 50% das dores de cabeça e crises de enxaqueca podem ser evitadas com bons tratamentos preventivos. Fisioterapia, acupuntura, massagens e exercícios regulares têm sido recomendados. As causas mais comuns estudadas da dor de cabeça estão vinculadas ao estresse, a ingestão de gordurosas, e alguns medicamentos.
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